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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Pastor de igreja ou de corações?

                                                           

 
‘… a obedecer de coração a forma de doutrina que fostes entregues;’ (Romanos 6.17).

Nesses últimos dias, estive pensando sobre o ministério pastoral e sua abrangência. De imediato, diria que o pastor deva exercer seu ministério tanto na igreja, isso me refiro a instituição, como também atingir o coração das ovelhas. Não vejo o ministério como algo profissional, no entanto, vejo como uma função direcionada pelo Espírito Santo aos seus escolhidos. Pois nem todos na igreja devam ser pastores; a diversidade diante dos dons do Espírito Santo comprova essa verdade (cf. 1º Coríntios 12.12-31).
Concernente ao coração, o pastor deva transmitir uma mensagem que atinja, em primeiro lugar o coração das ovelhas. Afinal a mensagem em si, deva ser a mais bíblica possível. Não me refiro aquele tipo de pregação que deixa o texto com aspecto de pretexto perante os ouvintes, refiro-me a forma com que o pregador, ou o pastor no caso, deva assim transmitir. Pois a forma com que transmitimos a mensagem do Evangelho, reflete ao coração da ovelha aquele compromisso com que cada pecador regenerado pela graça de Cristo deva se espelhar e exercer obediência aos princípios das doutrinas do Senhor.
Assim, poderemos ser pastores que pastorei a igreja do Senhor Jesus Cristo aqui na terra com uma proposta muito clara, ou seja, conduzir as ovelhas do Senhor ‘… a obedecer de coração a forma de doutrina que fostes entregues;’ (Romanos 6.17).
Aliás, é interessante informar que a primeira pergunta do nosso catecismo maior de Westminster, o catecismo da instituição da Igreja Presbiteriana no Brasil nos ensina na ‘PRIMEIRA PERGUNTA: Qual é o fim principal do homem? RESPOSTA: O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre. Referências Bíblicas: 1ª Coríntios 10.31.  Salmos 73.24-26.  João 17.22, 24’.
Portanto, essa é a graça que desejo e que transmito para as minhas ovelhas, a graça de viver a vida de Jesus Cristo, dentro de uma instituição que pode ter suas falhas, pois é composta por seres humanos falhos e pecadores. No entanto, podemos, pela graça salvadora, sermos crentes para a glória de Deus. Amém!

Aproveito e indico uma leitura proveitosa do livro: Coração de Pastor; Resgatando a responsabilidade pastoral do presbítero. Autor: John Sittema; Editora: Cultura Cristã. 


Pr. José Tiago
Ministro Presbiteriano na Congregação Presbiterial em Santa Cruz do Capibaribe, PE.
Avenida Jatobá, Nº 143, Centro. 

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

‘Desigrejados’ Será que a Igreja pode ser chamada de instituição?



Temo que hoje em dia, especificamente quando se trata sobre religião, onde igrejas sérias e comprometidas com as Escrituras Sagradas estejam sendo colocado em ameaças de credibilidade, apenas pelo fato de tantas críticas, diga-se de passagem, elaboradas de forma generalizadas sobre o termo ‘religião’. A instituição chamada igreja tem recebido um volume de descrença a tal ponto, que frases de efeitos como, por exemplos, ‘deixando a religião para encontrar com Deus,’ ‘vida após a igreja’ ‘ex-dependente de igreja’, tenha impulsionado um comportamento anti religioso no meio evangélico. Infelizmente, por trás deste comportamento crítico, existe um interesse sobre a própria religião criticada. De fato, especificamente, no meio evangélico, podemos chamar esse comportamento de ‘desigrejados’. E esse movimento tem crescido em número de adeptos, pois a moda agora é gerar um ambiente livre de regras do Cristianismo. Afinal, como esse movimento estabelecerá um grupo reunido em culto, se o próprio termo culto é inserido ao mundo religioso? Não há lógica. A crítica que eles estabelecem, não é contra a Religião, e sim contra as regras inseridas pelo Cristianismo bíblico. Bem, se o movimento anti religioso, caracterizados por esses ‘desigrejados’ é de fato correto em suas afirmações contrárias ao Cristianismo, pergunto eu, o termo ‘Trindade’ é inteiramente religioso, não há essa palavra nas Escrituras, estaria por isso esses ‘desigrejados’  sujeitos a negarem uma doutrina indispensável ao Cristianismo bíblico? Sim, estariam sujeitos.

Portanto, permaneço crente em Jesus Cristo dentro da igreja d’Ele. Que pode ser chamada de uma instituição, pois não há proibição bíblica alguma. Não vejo problema algum em permanecer crente na instituição chamada Cristianismo, especificamente, Presbiteriana do Brasil, seguindo também a confissão de fé e o catecismo de Westminster. Saliento que, as Escrituras estão acima dos nossos símbolos de fé. Compreendo que o termo religião tem sido lido de forma preconceituosa, às vezes, generalizada, deixando de ser compreendida como de fato está sendo. Afinal, viver para a glória de Deus é viver debaixo de regras das Escrituras. E a instituição ao qual faço parte não pode perder sua credibilidade bíblica e histórica por causa de falsos guias.  


Pr. José Tiago Xavier Costa
Ministro Presbiteriano em Santa Cruz do Capibaribe, PE

quarta-feira, 28 de maio de 2014

RESENHA - Teologia Bíblica de VOS, Geerhardus.



Resenha
José Tiago Xavier Costa[1]*

VOS, Geerhardus. Teologia Bíblica Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. 495 p. Traduzido por Alberto Almeida de Paula do original inglês Biblical Theology (old and new testament) (1948)

Geerhardus Vos (1862-1949) nascido na Holanda imigrou em 1881 aos 19 anos para os Estados Unidos, com 31 anos de idade tornou-se professor de Teologia Bíblica no Princeton Seminary onde lecionou por 39 anos. Este teólogo holandês, tão respeitado em Princeton (EUA), veio a falecer aos seus 87 anos de idade. 
Geerhardus Vos é pouco conhecido no contexto evangélico brasileiro. Apenas no ano passado foi traduzida pela primeira vez ao português, a obra de Teologia Bíblica de Vos, sendo esta obra editada originalmente em 1949 pelo filho do autor, o Rev. Johannes G. Vos, foi licenciada por permissão especial da Wipf and Stock Publishers, tendo um caminho de 61 anos para chegar a nossas mãos e com uma boa tradução, diga-se de passagem. Interessante perceber que por mais que seja intitulada Teologia Bíblica Antigo e Novo Testamentos, este livro dedica 75% ao Antigo Testamento e, 25% ao Novo Testamento. Isso se dar, pelo fato do autor organizar seus argumentos no aspecto da abordagem progressivo da revelação, a chamada “progressão histórica” (p. 28), ou seja, o critério com que o autor escolheu a narrativa de seus argumentos foram às sequências históricas das narrativas bíblicas ocorridas em seus respectivos momentos da história da redenção do povo de Deus. Este método descreve a teologia bíblica utilizado pelo autor.  Vos declara: “A teologia bíblica lida com a revelação como sendo atividade divina, não o produto final dessa atividade. Sua natureza e método de procedimento terão naturalmente, de manter estreito contato e reproduzir,…, as características do trabalho divino…” “… Revelação é a interpretação da redenção.” (p. 16). 
Em seu livro, Vos comenta o nascimento da abordagem da Teologia Bíblica, como um nascimento no ambiente racionalista, como também, a teologia bíblica recebe vários ataques, entre elas as correntes filosóficas, especificamente, segundo Vos, a filosofia da evolução (p. 22). Ele apresenta a Teologia Bíblica como designada como uma coleção de textos- prova no estudo da teologia sistemática. (p. 20). O aparecimento de um método chamado “hiperescolático” no tratamento da dogmática foi tratado na época dos pietistas como um protesto. Vos, informa que o primeiro a trazer a abordagem de uma forma diferenciada foi J. P. Gabler. No entanto, Vos declara que o Gabler era influenciado pelo racionalismo da época. (p. 20). E apresenta a característica principal dessa escola o “… desrespeito pela História e tradição e o correspondente louvor à razão como a única e suficiente fonte do conhecimento religioso.” (p. 20). 
Importante salientar que Vos não escreveu literalmente o objetivo de sua obra, no entanto, ele apresentou este livro em resposta ao racionalismo de sua época. Segundo Vos, a Teologia Bíblica, tem sido afetada desde o seu nascimento pelo racionalismo, como também do positivismo. (p. 23). Vos, observa os ataques do racionalismo de sua época direcionado contra Deus na esfera da crença do cristianismo. O mesmo declara: “O racionalismo tem atacado a religião há tanto tempo e de modo tão violento que ela não pode parecer incorreta em virar a mesa e por um instante criticar o racionalismo pela perspectiva religiosa. O ponto principal a se observar é a autoassertividade do racionalismo contra Deus na esfera da verdade e da crença.… Quando se examina o quadro mais de perto, o protesto conta a tradição é um protesto contra Deus como a fonte da tradição, e o modo de tratamento da teologia bíblica não têm como objetivo honrar a História como forma de tradição, mas desacreditar tanto a História como a tradição”. (p. 21) Vos, apresenta em seu livro as influências do racionalismo a teologia bíblica (p. 23). Ele alcança o seu objetivo quando apresenta os princípios orientadores, do qual, o autor alista da seguinte maneira: (a) O caráter infalível da revelação; (b) A teologia bíblica deva reconhecer a objetividade da base da revelação; (c) A Teologia bíblica deva estar envolvida com a questão da inspiração. (p. 23).
Em minha opinião é importante salientar, que Geerhardus Vos é tão seguro e bíblico em suas apresentações que uma leitura superficial deste livro seria infrutífero para a compreensão dos fatos que o autor aborda em seu livro.
Considero este livro como apologético, no que se refere à defesa da Teologia Bíblica diante do racionalismo da época do autor. O auge, ou o objetivo deste livro encontra seu fundamento quando Geerhardus Vos apresenta uma Teologia Bíblica totalmente separada das filosofias anticristã. O autor aborda roteirizando passo a passo os argumentos da chamada escola criticismo de Wellhausen, como também seus representantes, como por exemplo, o próprio Wellhausen, Stade, Robertson Smith, Kuenen, Winkler, Smend, Dilman, Gabler, Hengstenberg e Baldensperger. Na página 23 do livro, Vos apresenta o que ele chama de “Princípios orientadores”, como uma espinha dorsal para compreensão da teologia bíblica descrita nesse livro.

O livro é dividido em duas partes, Antigo e Novo Testamentos, com um total de dezenove capítulos, sendo dividido em 14 capítulos para o Antigo, e 5 capítulos para o Novo Testamento. A abordagem do autor se concretiza quando o mesmo apresenta suas posições exegéticas dos textos citados. Vos sempre aborda uma análise de progressão histórica do texto.

Os fundamentos do autor estão entrelaçados nos princípios orientadores que o mesmo roteirizou (cf. página 23). A teologia bíblica proposta por Vos, ao receber ataques do racionalismo da época do autor, têm como base uma exegese processada pelo registro bíblico, daí então o roteiro dos princípios orientadores, são destacados como harmônicos como resposta ao racionalismo, ou como o próprio autor declara: “Contra essas influências perversivas é importante expor os princípios pelos os quais o nosso tratamento da matéria é conduzido.” (p. 23). 

Destaco também a importância deste livro na ênfase do tratamento em que a narrativa do autor expõe o compromisso com a Teologia Bíblica e com o texto bíblico. A base da inerrância escriturística, na elaboração de uma Teologia Bíblica mais concisa, faz do livro de Geerhardus Vos, uma resposta à Teologia do nosso século, onde as Escrituras são tratadas, pelos racionalistas de plantão, como um livro ‘contendo erros’. Os dogmas que as Escrituras defendem são facilmente questionados por uma exegese fria e sem compromisso com o próprio texto sagrado. Nos dias atuais a obra de Geerhardus Vos, tem um compromisso com todos aqueles que zelam por uma Teologia Bíblica mais próxima do texto, do quê uma mera opinião filosófica.

Esse livro deva ser lido por todos aqueles que tragam na mente e no coração o compromisso de conciliar a teologia com a passagem bíblica, sem perder ambos os valores supracitados. Aqueles que desejam desfrutar de uma leitura descritiva e informativa, a obra de Vos, preencherá estes requisitos. Aqueles dos quais sofrem com os ataques levantados as Sagradas Escrituras, encontrará na abordagem de Geerhardus Vos o método apologético utilizado pelo autor diante do racionalismo como uma resposta agradável e comprometedora com os escritos bíblicos.

Na primeira parte, no Antigo temos os períodos mosaico e profético. Vos, apresenta, o lugar da Teologia Bíblica no círculo das disciplinas teológicas. Vos, define Teologia Bíblica como “… aquele ramo da teologia exegética que lida com o processo da autorrevelação de Deus registrada na Bíblia”. (p. 16). É apresentada a distinção entre a revelação geral e especial. (p. 36). O conteúdo da revelação antes e depois do pecado é abordado pelo autor. Vos, trata sobre revelação geral através de quatro princípios que se encontram na realidade humana. (1) O princípio da vida; (2) Do teste ou provação, ou seja, conhecimento do bem e do mal; (3) Da tentação e pecado; E (4) A morte. Vos, descreve o conteúdo da revelação especial seguindo o período mosaico. Os três períodos da revelação noaica, são apresentados como sendo; primeiro, o propósito de Deus de instruir uma nova ordem de coisas; segundo, as medidas tomadas para dar conteúdo e segurança a essa ordem; e terceira a nova ordem confirmada na forma de um berith, ou aliança. É abordada pelo autor a abrangência do curso subsequente da história da redenção. Geerhardus Vos responde a questão levantada, pela escola dos críticos Wellhausen, especificamente por Stade, sobre a existência dos patriarcas no campo da história. O autor confirma a existência, não como uma auto-idealização do povo de Israel, e sim através das raízes históricas do povo de Israel. Vos, comenta que “…se os patriarcas não eram históricos… seria difícil dizer por que isso deveria começar com Moisés. … A única posição lógica é que, se uma história da redenção é necessária, ela deveria começar com Adão e Eva”. (p. 91). O autor elabora respostas concernentes à posição hermenêutica da escola criticismo de Wellhausen, onde a mesma ensinava a falta do fator sobrenatural, como também a figura de Moisés como não histórica, tal qual a dos patriarcas. Vos, comenta da seguinte forma: “Essa escola de criticismo considerava todo o conteúdo legal e narrativo do Pentateuco, inclusive o Decálogo, como sendo de origem bem mais tardia do que a era mosaica. “… quão difícil explicar racionalmente a preeminência de Moisés na tradição religiosa de Israel. … chegam a conclusão de que a figura de Moisés é não-histórica, mas jamais existiu alguma pessoa com esse nome” (p. 130). Portanto, Vos apresenta sua desaprovação aos argumentos da escola de Wellhausen. Vos considera Moisés no organismo da revelação do Antigo Testamento como também, a forma e o conteúdo da revelação no período mosaico.
Na segunda parte, temos o período profético de revelação e o Novo Testamento. Concernente ao período profético, VOS, apresenta o lugar, o conceito, a história e o modo da revelação e comunicação do período profético de revelação. O argumento descritivo do autor propõe uma leitura sobre a progressividade na revelação no Antigo Testamento, ou seja, o processo de revelação em sua articulação. Vos, mostra os dois períodos principais do profetismo, o primeiro, como o avivamento profético no tempo de Samuel até os primeiros profetas do período do século oitavo a. C. (p. 231). O segundo se estende da outra metade do século oitavo a. C. até o fechamento da profecia no Antigo Testamento. Vos, comenta sobre esses períodos da seguinte maneira: “… o primeiro, a possibilidade de arrependimento e conversão… no segundo período, (arrependimento) não adquire um tom mais ou menos superficial”. (p. 232). Destaco as palavras de Vos centrado nos valores absolutos da escatologia, com isso percebemos a progressividade da revelação no Antigo Testamento, quando depois da metade do século oitavo a. C. os profetas começam a serem profetas escritores. Passando as futuras gerações as verdades escritas. Como Vos declara: “… o princípio de continuidade, ou seja, de uma história de redenção e revelação” (p. 233). 
Na parte do Novo Testamento, as estrutura da revelação são apresentados existentes como uma realidade da nova dispensação, como provenientes de as indicações do Antigo Testamento, dos ensinos de Cristo e, dos ensinos de Paulo e os outros apóstolos de Cristo. Vos, apresenta as interpretações bíblicas à encarnação de Cristo, que segundo o autor, “… no ensino joanino (de Jesus) esses são muito mais numerosos e evidentes; com Paulo, a doutrina emerge numa forma explícita completa; no prólogo do quarto Evangelho e em suas epístolas, o apóstolo João dá sua formulação clássica” (p. 369). A relação entre Cristo e João Batista é apresentada como estrutura da revelação messiânica nos escritos dos Evangelhos. No entanto, Vos declara que os escritores modernos tentam separar João Batista de Jesus, gerar um conflito entre o conteúdo da pregação de ambos. Esse pensamento era defendido por Baldensperger. Vos, comenta: “… eles assumem que os dois representavam movimentos religiosos separados, que continuaram a correr em paralelo por um tempo considerável.” (p. 377). Em relação à revelação na aprovação de Jesus, Vos, aborda as interpretações modernas direcionadas a tentação de Cristo. Vos, declara: “As intepretações modernas do evento mais em voga se deparam com dificuldades maiores ao sustentarem a impecabilidade de Jesus…” (p. 412). 
Há importantes detalhes nas Escrituras, no entanto, nenhuma delas supera a pessoa de Cristo. O autor deste livro aborda a atitude da Jesus em relação às Escrituras do Antigo Testamento. Vos, comenta isso a partir da visão messiânica nas Escrituras e sua dimensão religiosa, quando atinge o judaísmo e proporciona o cristianismo. Vos, declara: “Ele (Cristo) era a confirmação e consumação do Antigo Testamento em sua pessoa, e isso concedia um substrato de sua interpretação de si mesmo no mundo da religião. Ao mesmo tempo, isso é a prova da visão realista que ele adotou da religião do Antigo Testamento. Nem aquela, nem a própria religião, era uma religião de natureza pura e simples; ela era uma religião de interposições redentoras factuais com base em um prévio, mas obscuro, conhecimento natural de Deus.” (p. 431). 
A raiz de todo o Antigo Testamento evidencia a paternidade de Deus com o Seu Filho Cristo. Como também, o reino de Deus, como o reino de Evangelho do Filho de Deus, apresentado e manifestado como sinal messiânico. A essência e supremacia do Reino, apresentado pelo autor, traz o exercício da glória e teocracia manifestada pela esperança escatológica da mensagem do Messias de Israel, e a Igreja, como um convergir da igreja do Antigo Testamento a igreja do Novo Testamento. Ou seja, a compreensão do reino de Deus se preenche de fatos comprovados, quando esses fatos se completam. Nas palavras de Vos, “A Igreja nasceu e permanece sob a marca da consumação e descanso bem como de movimento. Ela consiste não somente de mero fazer, mas também de gozo, e esse gozo não pertence exclusivamente ao futuro” (p. 481).




































[1]* Ministro presbiteriano da congregação presbiterial em Santa Cruz do Capibaribe, PE. Formou-se em Bacharel em Teologia no Seminário Congregacional em Campina Grande/PB. Atualmente faz mestrado em Hermenêutica no Novo Testamento pelo Instituto Bíblico Betel Brasileiro em João Pessoa/PB.


terça-feira, 6 de maio de 2014

Resenha do comentário de Romanos de John Murray

Resenha
José Tiago Xavier Costa[1]*




MURRAY, John, Comentário Bíblico Fiel. São José dos Campos – São Paulo: Fiel, 2003. 684 p. Traduzido por João Bentes, já falecido. Do original inglês The Epistle to the Romans.

John Murray (1898 – 1975) era escocês, nascido em Glasgow, foi um teólogo formado pela universidade de Glasgow. Graduou-se pelo Princeton Seminary, onde, mas tarde participou do grupo que fundou a Westminster Theological Seminary, onde ensinou de 1930 a 1966.  Antes da fundação do Seminário da Westiminster Theological Seminary, Murray chegou à América do Norte já com certo conhecimento recebido em educação literária e parte de sua educação teológica nas universidades escocesas da época, as de Glasgow e Edimburgh. No período que passou na América do Norte, Murray estudou teologia em Princeton, por três anos, e ensinou naquele seminário na cadeira de teologia sistemática durante um ano (1929 – 1930).  Murray serviu como membro do corpo docente do Westminster Theological Seminary, e à partir de 1937 como professor especificamente em Teologia Sistemática. Dentro de suas inúmeras contribuições, as obras principais de Murray podem ser alistadas na seguinte ordem; Christian Batism (1952) Divorce (1953), Redemption, Accomplished and Applied (1955), Payton Lectures (1955), Princeples of Conduct (1957), The Imputation of Adam’s Sin (1959).
John Murray casou-se com 69 anos de idade com Valerie Knowltone em 1967 e, aposentou-se no ano seguinte em 1968 retornando à Escócia aonde sete anos, mas tarde veio seu falecimento. Nas palavras do editor deste comentário, o senhor Ned B. Stonehouse, amigo íntimo de John Murray onde durante quase trinta e cinco anos de amizade, primeiro como colegas de classe no Princeton Theological Seminary, depois como colegas do corpo docente do mesmo seminário, o mesmo descreve as seguintes palavras sobre Murray e seu comentário da carta aos Romanos; “… a devoção do autor à responsabilidade primária de expor o texto, a reverente devoção ao Deus da Palavra e o estilo elevado que, de modo geral, caracteriza este comentário”. O mesmo editor Ned B. Stonehouse avalia a forma de abordagem de Murray, “… de maneira que fizesse a maior justiça possível às questões exegéticas.” (pp. 5,6)

John Murray escreveu este comentário para saciar as necessidades daqueles que por algum motivo não obtêm acesso às línguas originais das Escrituras. No prefácio do autor, John Murray esclarece o porquê de ter escrito este comentário, afim de quê “… seja livremente consultado por aqueles que não estão afeitos às línguas originais das Escrituras,” (p. 7). O propósito deste livro, segundo o autor, foi alcançado quando o mesmo analisou os detalhes exegéticos utilizados durante sua pesquisa. Murray comenta nas seguintes palavras “Porém, tentei determinar o que acredito ter sido o pensamento do apóstolo sobre aqueles assuntos centrais em Romanos, procurando fazer isso de modo a aproveitar as contribuições mais significativas de outros, ao explanarem essa carta.” (p. 8). Portanto, para Murray a carta aos Romanos é “a Palavra de Deus. Seu tema é o evangelho da graça divina, e o evangelho anuncia as maravilhas da condescendência e do amor de Deus.” (p. 9).

Murray alcançou, diante dos assuntos que o mesmo considerou na carta de Romanos como centrais, o seu objetivo. O aspecto mais forte desta obra consiste em Murray alcançar o seu objetivo, através de um método expositivo, tratando especificamente o Evangelho da graça divina na carta de Paulo aos Romanos. Outro aspecto do seu objetivo é considerar que não existe distanciamento da abordagem do autor, ou seja, na minha leitura, John Murray abordar as questões exegéticas do texto sem sair do tema central do próprio texto comentado e analisado pelo o mesmo. Pode-se perceber que em toda e qualquer argumentação proposta pelo comentarista, em sua abordagem no texto, sempre traz resultados benéficos à sua análise e progressivamente ao seu comentário. Considerei outro aspecto forte do comentário de John Murray a canonização do seu argumento de quê o tema da carta de Romanos é “… o evangelho da graça divina,” (p. 9).  Mais adiante, Murray considera os versículos 16 e 17 do primeiro capítulo como tema central da carta, e apresenta quatro idéias fundamentais para a apresentação do conceito do evangelho como; “ – o poder de Deus, a salvação, a revelação e a justiça de Deus”. (p. 58).  Murray apresenta sua fundamentação em prol do proto evangelho ao alicerçar seus argumentos em defesa do conceito do Evangelho através de textos encontrados no Antigo Testamento (cf. Sl. 98. 1,2; Is. 46. 13; 51. 5,8; 56. 1; 62. 1).  

Portanto, considerei esta abordagem e defesa de argumentos, apresentada pelo autor como o aspecto mais forte do livro. Porque penso assim? Primeiro por que Murray parte do pressuposto da fundamentação de sua análise através da base argumentativa do apostolo Paulo, ou seja, o Antigo Testamento. Segundo, por que corresponde a uma analise não apenas vista e interpretada nesta carta especificamente e, sim correspondente a uma abordagem que pode ser considerada nos escritos do apóstolo Paulo. E por último, a base interpretativa de Murray é bem representada pela hermenêutica reformada. Murray, por exemplo, apresentou o texto de uma forma que o mesmo mostrou por si só suas afirmações. Interessante que em toda a parte deste comentário, ou seja, em todos os capítulos do livro que aborda o comentário do texto da carta aos Romanos, o autor se preocupa exclusivamente com o texto.

Murray responde a certas críticas de sua época, como por exemplo, a teologia dialética defendida naquela época por Karl Barth; “Deve ficar evidente… que o conceito paulino da relação entre a Palavra de Deus reveladora e as Escrituras difere radicalmente do conceito da teologia dialética.” Em seguida Murray, de uma forma irônica ou não comenta sobre a falta de esclarecimento da passagem de Romanos 1. 2. pelo Karl Barth “É significativo que Karl Barth, em sua obra, The Epistle to the Romans, deixa de lado essas declarações do apóstolo sem avaliar o conceito de Sagrada Escrituras implícito em tais declarações” (p. 32,33)

O John Murray apresenta uma biografia respeitável em muitas de suas notas de rodapé. Posso nesse interim citar, apenas um exemplo, a exaustiva citação do comentarista Heinrich August Wilhelm Meyer um pastor luterano, que produziu um comentário completo do Novo Testamento em 16 volumes. John Murray chega a citá-lo 60 vezes das 657 notas de rodapé do seu comentário. Em alguns momentos a posição argumentativa de Murray chega a ser totalmente centralizada nas opiniões de Meyer. Murray chega a si posicionar contra Calvino em detrimento ao comentário de Meyer, “… O ponto de vista adotado por Calvino e outros… é bastante insustentável. … Se a interpretação de Meyer e outros fosse adotada, ela se harmonizaria perfeitamente bem com o pensamento da passagem…” (p. 215, cf. outro exemplo na nota de rodapé nº 3, p. 284). É impressionante como Murray fundamenta seus comentários através da posição exegética de Meyer. No entanto, há desacordo entre Murray e Meyer em algumas citações, por exemplo, na página 345 Murray considera a argumentação etimológica de Meyer sendo “…fútil”.

Na minha leitura, considero este comentário bem elaborado e importantíssimo para  qualquer pregador que tenha como prioridade a análise do texto bíblico. Para o contexto brasileiro, o comentário de Murray traz um tom mais tradicional. Há uma necessidade na teologia brasileira de bons comentários bíblicos. Indico e apresento este livro como ideal para aqueles que se dedicam e labutam por uma boa exegese.     

Este livro deva ser lido por aqueles que consideram importante sua fundamentação e opinião no texto bíblico por meio de uma qualificada erudição bíblica. Não indico a leitores que se dedicam a leituras de comentários devocionais ou que se prendem a detalhes puramente filosóficos ou a detalhes que não acrescenta em nada a possível abordagem do texto.

Murray apresenta dez apêndices no final do seu comentário. Entre eles coloco o apêndice que trata sobre “Karl Barth e Romanos 5” como uma resposta mais apurada para a teologia dialética. Murray apresenta uma crítica exegética sobre o pensamento antropológico e soteriológico de Karl Barth. 

Podemos ter uma visão panorâmica da carta aos Romanos ao observar que ela é desenvolvida através da imagem do escritor, neste caso o Apóstolo Paulo, tem sobre o Evangelho. Diante dos oito (8) primeiros capítulos da carta aos Romanos, Paulo apresenta a degradação do ser humano em uma linguagem muito clara, para a época dos seus leitores. Ele apresenta a justiça de Deus e a glória do Evangelho como a manifestação do punitivo do Senhor da Criação. A justificação como exigência da santidade divina diante dos pecados humanos, através de detalhamentos da iniquidade e da miséria do homem caído. Em seguida, nos capítulos nove (9) a onze (11), Paulo apresenta e desenvolve os assuntos que têm suas raízes no Antigo Testamento. Estes capítulo delineiam o desígnio universal de Deus em relação aos judeus e aos gentios. (p. 26). São as promessas feitas a Abraão e seus descendentes. Nos capítulos doze (12) a dezesseis (16), Paula escreve sobre a conduta que convém aos santos no exercício de suas responsabilidades sociais e políticas.

Obs: Caso queira reproduzir esta resenha, citar a autoria.


[1]* Ministro presbiteriano. Pastor da congregação presbiterial em Santa Cruz do Capibaribe, PE. Formado em Bacharel em Teologia no Seminário Congregacional em Campina Grande, PB. Mestrando em Hermenêutica no Novo Testamento pelo Instituto Bíblico Betel Brasileiro em João Pessoa, PB.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Doutrina: Semente de Fé versus Consciência da Fé - A União com Cristo.



Texto: Romanos 8.31-39; 12.1,2.
Assunto: Semente de Fé versus Consciência da Fé.

Objetivo: Tornar claro a ligação entre a doutrina do Espírito Santo com o conceito que devemos ter acerca da fé e da nossa eleição. 

Introdução
Vamos continuar tratando sobre a importância da nossa união com Cristo. Como Calvino disse: ‘a eleição responde em vez de levantar questões sobre segurança. Em Cristo, o crente ‘vê’ sua eleição; no evangelho, ele ‘ouve’ de sua eleição.

União com Cristo.
O reformador estava consciente de que uma pessoa pode pensar que o Pai a confiou a Cristo quando não é o caso. Uma coisa é afirmar a obra de Cristo como recipiente e guardiã do eleito; o centro, autor e fundação da eleição; a garantia, a promessa e o espelho da eleição e da salvação do crente. Outra coisa completamente diferente, porém, é saber como perguntar se uma pessoa se juntou a Cristo por meio da verdadeira fé. Muitos que parecem ser de Cristo são estranhos a Ele. Calvino disse: ‘Acontece diariamente que aqueles que pareciam ser de Cristo, retrocedem e caem… Tais pessoas jamais aderiram a Cristo com inteira confiança em seu coração de que a certeza de salvação, digo, foi estabelecida para nós’. Ainda que Calvino exercesse um ‘julgamento caridoso’ com respeito à salvação de membros da igreja que mantinham um estilo de vida recomendável, ele, também, frequentemente, afirmou que somente uma minoria receba a Palavra pregada com fé salvadora. Ele disse: ‘Pois, ainda que todos aos quais a Palavra de Deus é pregada, sem exceção, sejam instruídos, apenas uns poucos, um em dez quando muito, provam dela; sim, somente um pequeno número, algo como um em cem, tira proveito do fato de terem sido capacitados a prosseguir no curso certo’.
Calvino cria que muito do que parece fé carece de um caráter salvador. Ele falou de fé não-formada, de fé implícita, da preparação para a fé, de fé temporária, de uma ilusão de fé, de uma falsa demonstração de fé, de tipos sombrios de fé, de fé transitória e de fé mascarada de hipocrisia.

Necessidade de um autoexame.
O autoengano é uma possibilidade real, disse Calvino. O réprobo frequentemente sente algo semelhante à fé do eleito. ‘Há uma grande semelhança e afinidade entre os eleitos de Deus e aqueles aos quais é dada a fé transitória’. Por isso, é essencial que se proceda um exame pessoal: “O Espírito Santo admoesta-nos dizendo que não podemos supor que a maioria das pessoas que são membros da igreja (é eleita) só porque seu grande número parece exceder outros, pois, como o joio se sobrepõe ao trigo e o sufoca, assim a hipocrisia soterra os filhos de Deus cujo número é sempre menor… Portanto, aprendamos a examinar a nós mesmos e a verificar se temos marcas interiores pelas quais Deus distingue seus filhos dos estranhos, isto é, a raiz viva da piedade e da fé”.

Felizmente, os verdadeiros salvos serão preservados do autoengano mediante um exame apropriado dirigido pelo Espírito Santo. Calvino escreveu: “No meio tempo, os fieis são instruídos a examinar a si mesmos com solicitude e humildade, para que não aconteça que se insinue uma segurança carnal em vez de segurança da fé”.

Há uma necessidade de um autoexame pessoal acerca de uma diversidade de tópicos, tais como: conhecimento de Deus e de nós mesmos, julgamento, arrependimento, confissão, aflição, Ceia do Senhor, providência, dever e reino de Deus. Esses foram os temas abordados por Calvino diante da necessidade de um autoexame pessoal, na vida do crente.
Mesmo diante desta necessidade, Calvino enfatizou Cristo. Ele disse que devemos examinar a nós mesmos para ver se estamos colocando nossa confiança em Cristo apenas, pois esse é o fruto da experiência bíblica. Para ser mais claro, o autoexame precisa sempre nos dirigir, com nossos pecados e injustiças, a Cristo e às suas promessas. Não deve jamais ser feito à parte da ajuda do Espírito Santo, que é o único que pode lançar luz sobre sua própria obra salvadora por meio da Palavra. À parte de Cristo, da Palavra e do Espírito, disse Calvino, ‘se você contemplar a si mesmo, será pura condenação’.

A segurança da eleição é em Cristo.
Dessa forma, a linha de raciocínio de Calvino é a seguinte: O propósito da eleição abarca a salvação. Os eleitos não são escolhidos por causa de qualquer mérito próprio, mas apenas em Cristo. Uma vez que são eleitos em Cristo, a segurança de sua eleição e salvação não pode jamais ser encontrada em si mesmos à parte de Cristo, ou no Pai à parte de Cristo. Antes, a segurança é encontrada em Cristo; conclui-se daí que a base da segurança é a vital comunhão com Ele.
A questão, entretanto, permanece: Como o eleito goza tal comunhão, e como isso produz segurança? A resposta de Calvino foi pneumatológica: O Espírito Santo aplica Cristo e seus benefícios ao coração e à vida de pecadores eleitos e culpados pelo que são assegurados pela fé salvadora de que Cristo lhes pertence e de que eles pertencem a Cristo. O Espírito Santo confirma neles as promessas de Deus em Cristo. Assim, a segurança pessoal jamais é separada da eleição do Pai, da redenção do Filho, da aplicação do Espírito e dos meios instrumentais da fé.

O Testemunho do Espírito Santo.
O Espírito Santo desempenha um papel enorme na aplicação da redenção, disse Calvino. Como consolador pessoal, selo, penhor, testemunho, segurança e união, o Espírito testifica a graciosa adoção do crente: Deus, derrama sobre nós a graça celestial do Espírito, sela no nosso coração a certeza de sua própria palavra… Pois o Espírito, testificando nossa adoção, é nossa segurança, e, confirmando a fé das promessas, é o selo, para que em boas bases seja chamado sincero, porque é derivado a ele que o pacto de Deus é ratificado em ambos os lados, que, se não fosse por ele, teria ficado em suspenso… Assim é que ele tem estes títulos de distinção: Unção, Penhor, Consolador e Selo.
Calvino afirmou que o testemunho do Espírito é absolutamente essencial para a adoção e segurança pessoal: “O Espírito Santo de Deus nos confere o testemunho de que, quando Ele é nosso guia e mestre, nosso espírito é assegurado da adoção de Deus; pois nossa mente por si só, sem o prévio testemunho do Espírito, não pode convencer-nos dessa segurança”.


Conclusão
Concluímos que a união com Cristo evidencia nossa eleição. No entanto, o autoexame pessoal, nos concede a segurança e o testemunho de nossa eleição e testemunho do Espírito Santo em nós, comunicando-nos a unção, o penhor o consolo o selo e a afirmação da nossa adoção em Cristo.


Debate:
01 – Por que a doutrina da eleição é mal compreendida?
02 – Comente sobre os valores do autoexame na vida do crente.
03 – Por que alguns crentes se desviam da Palavra de Deus?

Próximo culto de doutrina dia 17 de abril, será tratado sobre: Semente de Fé versus Consciência de Fé.
Congregação presbiterial em Santa Cruz do Capibaribe, PE. 10 de abril de 2014.
Rev. José Tiago Xavier Costa
Culto de oração e doutrina.
Fonte: A busca da plena segurança. O legado de Calvino e seus sucessores; Autor: BEEKE, Joel. Editora: Os puritanos; pp. 88 – 92.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

O que é a Igreja Presbiteriana do Brasil?




O que é a Igreja Presbiteriana do Brasil?

A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma instituição de raízes protestantes. Ela tem como guia a Escritura Sagrada. E de notáveis formulações confessionais; ela possui sua confissão e catecismos, ou seja, ela prioriza o ensino da Escritura, direcionada aos adultos e crianças.
Nesse conjunto de ensinos, que o presbiterianismo produz, chamamos de teologia calvinista ou teologia reformada. Entre as suas ênfases estão à soberania de Deus, a eleição divina, a centralidade da Palavra e dos sacramentos, importante salientar que esses sacramentos são retirados do Antigo Testamento, ou seja, a substituição da páscoa pela ceia do Senhor, e a circuncisão pelo batismo. Evidenciando um conceito mais claro do pacto, conservando a validade permanente da lei moral e a associação entre a piedade e o cultivo intelectual.
No sentido litúrgico, a IPB (Igreja Presbiteriana do Brasil) procura obedecer ao princípio regulador do culto. O domingo, o dia do Senhor, deva ser guardado e dedicado exclusivamente ao Senhor das Escrituras. O culto deva ater-se às normas contidas na Escritura, proibindo assim, as práticas modernas de uma nova liturgia ou uma liturgia coreográfica, ou como diz, Valter Graciano Martins, em seu prefácio a edição brasileira da teologia do velho Charles Hodge, “… com a ‘nova liturgia’, ou a ‘liturgia coreográfica’, uma vez que a Trindade é ‘pericorética’ ou ‘dançante’ (HODGE, Charles, Ed. Hagnos, p. 5).
O culto se caracteriza por sua ênfase teocêntrica, simplicidade, reverência, e com conteúdo bíblico e pregação expositiva. Salientando que o culto a Deus deva ser fervoroso e alegre, pois a fé do eleito é alimentada ao conhecimento bíblico ao qual o mesmo se dispõe quando cultua a Deus em espírito e em verdade.  
A IPB também valoriza a educação cristã, através da Escola Bíblica Dominical. Ela congrega seus membros em suas sociedades internas, com a SAF (Sociedade Auxiliadora Feminina) a UCP (União de Crianças Presbiterianas), UPA (União Presbiteriana de Adolescentes), UMP (União de Mocidade Presbiteriana) UPH (União Presbiteriana dos Homens).
Ambas agremiações, tem como objetivo valorizar e cultivar os valores do reino de Cristo, testemunhando assim a evangelização em todos os membros da igreja local.
Cada igreja possui um grupo de oficiais, os diáconos, cuja função primordial é o exercício da misericórdia cristã. O presbiterianismo tem uma visão abrangente da vida, entendendo que o evangelho de Cristo tem implicações para todas as áreas da sociedade e da cultura.
Portanto, a IPB é uma federação de igrejas que têm em comum uma história, uma forma de governo, uma teologia, bem como um padrão de culto e de vida comunitária.
Suas origens mais remotas encontram-se nas reformas protestantes suíça e escocesa, no século 16, lideradas por personagens como Ulrico Zuínglio, João Calvino e João Knox.
Historicamente, a IPB pertence à família das igrejas reformadas ao redor do mundo, tendo surgido no Brasil em 1859, como fruto do trabalho missionário da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos. Em 1859, a Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos enviou ao Rio de Janeiro o Rev. Ashbel Green Simonton, fundador da Igreja Presbiteriana do Brasil.
O nome “igreja presbiteriana” vem da maneira como a igreja é administrada, ou seja, através de “presbíteros” eleitos democraticamente pelas comunidades locais. Essas comunidades são governadas por um “conselho” de presbíteros e estes oficiais também integram os concílios superiores da igreja, que são os presbitérios, os sínodos e o Supremo Concílio. Os presbíteros são de dois tipos: regentes (que governam) e docentes (que ensinam); estes últimos são os pastores.
Em 2005, a Igreja Presbiteriana do Brasil tinha aproximadamente 4.800 igrejas locais e congregações, 263 presbitérios, 64 sínodos, 3.800 pastores, 415.500 membros comungantes e 125.000 membros não-comungantes (menores), estando presente em todos os estados da federação.


Fonte: Adaptado com o texto de Alderi Souza de Matos; site: http://www.mackenzie.com.br/7087.html. Acessado 25/04/2014.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Doutrina: Fé e segurança, segundo João Calvino.




Texto: Atos 2.39; 1ª Coríntios 2.6-16.
Assunto: Fé e segurança.
Objetivo: Esclarecer a ligação entre fé e segurança na vida cotidiana do crente. Salientar corretos conceitos sobre fé e segurança que complementam o crescimento dos salvos em Cristo Jesus.

Introdução
Tratar sobre fé e segurança não é apenas tratar sobre segurança da salvação no salvo, é tratar especificamente sobre a consciência do salvo em suas lutas e fraquezas diárias.

Natureza e definição de fé.
O que é fé?
Para Calvino a fé não era uma concordância com a Palavra de Deus, mas envolvia o conhecimento e confiança nesta verdade divina. Pois o conhecimento e a confiança são dimensões salvíficas da vida e da fé em vez de serem apenas questões lógicas da vida cristã. Ou seja, para Calvino, a fé não é conhecimento histórico somado à concordância salvadora, mas um conhecimento seguro e salvador acrescido de uma confiança salvadora e segura. Salientando que o conhecimento é fundamental para a fé. Esse conhecimento, segundo o reformador,  repousa sobre a Palavra de Deus, a qual é essencialmente a Sagrada Escritura, assim como a proclamação do evangelho.

A fé em relação à segurança.
A fé se origina na Palavra de Deus. A fé repousa firme sobre a Palavra de Deus, assim, a segurança deve ser buscada na Palavra e flui da Palavra. A segurança é inseparável da Palavra assim como o raio de sol é inseparável do sol. A fé recebe toda a Palavra de Deus. A fé sempre diz ‘amém’ às Escrituras.  

A fé em relação a Cristo.
A fé é também inseparável de Cristo e da promessa de Cristo, pois a totalidade da Palavra escrita é a Palavra viva, Jesus Cristo, em quem todas as promessas têm ‘o sim e o amém’. A fé repousa sobre o conhecimento da Escritura e sobre as promessas dirigidas a Cristo e centradas nele. A fé recebe Cristo como ele é apresentado no evangelho e graciosamente oferecido pelo Pai.

A fé em relação às promessas da Escritura.
O conhecimento da verdadeira fé focaliza as Escrituras em geral, e, em particular, a promessa da graça de Deus. Calvino confere bastante importância às promessas de Deus como base da segurança, pois são promessas do Deus que não pode mentir. Uma vez que Deus promete misericórdia aos pecadores em sua miséria, a fé se apóia em tal promessa. As promessas se focalizam em Cristo e nele são cumpridas; Pois as promessas são seguras porque são estabelecidas em Cristo.

A essência da fé.
Uma vez que a fé recebe seu caráter da promessa sobre a qual repousa, ela (fé) assume o selo da infalibilidade da Palavra de Deus. Assim, a fé possui a segurança de sua própria natureza. Segurança, certeza e confiança, tal é a essência da fé.

Fé asseguradora.
Essa fé asseguradora é o dom do Espírito ao eleito. O Espírito persuade o pecador eleito da confiabilidade das promessas de Deus em Cristo e garante-lhe a fé com que abraça a Palavra. Portanto, a fé asseguradora, segundo Calvino, precisa envolver o conhecimento salvífico, as Escrituras, Jesus Cristo, as promessas de Deus, a obra do Espírito Santo e a eleição. Resumindo, o próprio Deus é a segurança do eleito. Conseqüentemente, ‘poderemos ter uma noção correta de fé, se a chamarmos de conhecimento firme e certo da benevolência de Deus quando a nós, fundada na verdade da promessa livremente concedida em Cristo, ambas reveladas à nossa mente e selada no nosso coração pelo Espírito Santo’.
Portanto, a fé é a certeza da promessa de Deus em Cristo, aplicada pelo Espírito. Isso envolve o homem no uso da mente, na aplicação ao coração e na rendição da vontade. A segurança pertence à essência da fé.

A segurança da essência da fé.
(Atos 2.39; 1ª Coríntios 2.6-16).

Fé é segurança pessoal.
A fé envolve algo mais do que crer na promessa de Deus. Envolve uma segurança pessoal. Crendo na promessa de Deus aos pecadores, o verdadeiro crente reconhece e celebra que Deus é gracioso e benevolente, particularmente para com ele mesmo. A fé é um conhecimento seguro ‘da benevolência de Deus em relação a nós… revelada à nossa mente... Selada em nosso coração’. A fé abraça pessoalmente a promessa do evangelho e não pode ser separada de uma segurança pessoal. Como Calvino escreveu: ‘Aqui, na verdade, está a dobradiça na qual gira a fé: que não consideremos as promessas de misericórdia que Deus oferece como verdadeiras somente fora de nós; … mas sim, que as tornamos nossas quando as abraçamos interiormente’.  

Segurança é parte complementar da fé.
Calvino comentando Atos 2.39 observou o seguinte: ‘É necessariamente preciso, para a certeza da fé, que cada um seja persuadido de que está incluído no número daqueles sobre os quais Deus falou. Esta é a regra da verdadeira fé, quando estou persuadido de que tenho essa salvação porque a promessa que me pertence essa salvação’.

Comentando sobre 1ª Coríntios 2.12 ele afirmou: ‘Os eleitos têm o Espírito que lhes foi concedido, e, pelo testemunho são assegurados de que foram adotados para a esperança da salvação eterna… Portanto, podemos conhecer a natureza da fé desta forma: que a consciência tem, da parte do Espírito, um testemunho seguro da boa vontade de Deus em relação a si mesma, para que, descansando sobre isso, não hesite em invocar a Deus como Pai… A palavra conhecer é usada para expressar mais plenamente a segurança da confiança… de que, sendo reconciliados com Deus, e tendo obtido a remissão dos pecados, saibamos que fomos adotados para a esperança da vida eterna, e que, sendo santificados pelo Espírito Santo da regeneração, somos feitos novas criaturas para que vivamos para Deus’.

Aquele que crer, mais não tem convicção de que é salvo por Deus em Cristo, esse não é um crente verdadeiro. Pois os verdadeiros crentes devem saber, e sabem de fato, que são crentes, ‘… e que ninguém pode ser chamado filho de Deus se não se conhecer interiormente como tal... ’.
Essa tão grande segurança, que ousa triunfar sobre o diabo, a morte, o pecado, e sobre as portas do inferno, deve se alojar no profundo do coração de todo piedoso; pois a fé é nada, exceto se nos sentirmos seguros de que Cristo é nosso, e de que o Pai é, nele, propício a nós.

Conclusão
A fé possui sua originalidade em Deus, pois ele é antes um dom divino entregue, exclusivamente, aos eleitos do Senhor. Pois a segurança dos que possuem esta fé repousam na Escritura, que focalizam as promessas seguras e estabelecidas por Cristo a nós. Onde a segurança é parte complementar desta fé dada aos santos regenerados, verdadeiros crentes, vinculados pela obra de Cristo. Pois a segurança é parte complementar da fé.

Debate:
01 – Que tipo de conhecimento a fé nos concede?
02 – A eleição nos traz segurança; segurança de quê?
03 – _____________________________________ ?

Próximo culto de doutrina dia 20 de março, será tratado sobre: Fé e experiência.

Congregação presbiterial em Santa Cruz do Capibaribe, PE. 13 de março de 2014.
Rev. José Tiago Xavier Costa
Culto de oração e doutrina.

Fonte: A busca da plena segurança. O legado de Calvino e seus sucessores; Autor: BEEKE, Joel. Editora: Os puritanos; pp. 61-66.