Resenha
José Tiago Xavier Costa[1]*
MURRAY,
John, Comentário Bíblico Fiel. São José dos Campos – São Paulo: Fiel, 2003. 684
p. Traduzido por João Bentes, já falecido. Do original inglês The Epistle to
the Romans.
John Murray (1898 – 1975) era escocês, nascido em Glasgow, foi um teólogo
formado pela universidade de Glasgow. Graduou-se pelo Princeton Seminary, onde,
mas tarde participou do grupo que fundou a Westminster Theological Seminary,
onde ensinou de 1930 a 1966. Antes da
fundação do Seminário da Westiminster Theological Seminary, Murray chegou à
América do Norte já com certo conhecimento recebido em educação literária e
parte de sua educação teológica nas universidades escocesas da época, as de
Glasgow e Edimburgh. No período que passou na América do Norte, Murray estudou
teologia em Princeton, por três anos, e ensinou naquele seminário na cadeira de
teologia sistemática durante um ano (1929 – 1930). Murray serviu como membro do corpo docente do
Westminster Theological Seminary, e à partir de 1937 como professor
especificamente em Teologia Sistemática. Dentro de suas inúmeras contribuições,
as obras principais de Murray podem ser alistadas na seguinte ordem; Christian Batism (1952) Divorce (1953),
Redemption, Accomplished and Applied (1955), Payton Lectures (1955), Princeples
of Conduct (1957), The Imputation of Adam’s Sin (1959).
John Murray casou-se com 69 anos de idade com Valerie Knowltone em 1967
e, aposentou-se no ano seguinte em 1968 retornando à Escócia aonde sete anos,
mas tarde veio seu falecimento. Nas palavras do editor deste comentário, o
senhor Ned B. Stonehouse, amigo íntimo de John Murray onde durante quase trinta
e cinco anos de amizade, primeiro como colegas de classe no Princeton
Theological Seminary, depois como colegas do corpo docente do mesmo seminário,
o mesmo descreve as seguintes palavras sobre Murray e seu comentário da carta
aos Romanos; “… a devoção do autor à responsabilidade primária de expor o
texto, a reverente devoção ao Deus da Palavra e o estilo elevado que, de modo
geral, caracteriza este comentário”. O mesmo editor Ned B. Stonehouse avalia a
forma de abordagem de Murray, “… de maneira que fizesse a maior justiça possível
às questões exegéticas.” (pp. 5,6)
John Murray escreveu este comentário para saciar as necessidades daqueles
que por algum motivo não obtêm acesso às línguas originais das Escrituras. No
prefácio do autor, John Murray esclarece o porquê de ter escrito este
comentário, afim de quê “… seja livremente consultado por aqueles que não estão
afeitos às línguas originais das Escrituras,” (p. 7). O propósito deste livro,
segundo o autor, foi alcançado quando o mesmo analisou os detalhes exegéticos
utilizados durante sua pesquisa. Murray comenta nas seguintes palavras “Porém,
tentei determinar o que acredito ter sido o pensamento do apóstolo sobre
aqueles assuntos centrais em Romanos, procurando fazer isso de modo a
aproveitar as contribuições mais significativas de outros, ao explanarem essa
carta.” (p. 8). Portanto, para Murray a carta aos Romanos é “a Palavra de Deus.
Seu tema é o evangelho da graça divina, e o evangelho anuncia as maravilhas da
condescendência e do amor de Deus.” (p. 9).
Murray alcançou, diante dos assuntos que o mesmo considerou na carta de
Romanos como centrais, o seu objetivo. O aspecto mais forte desta obra consiste
em Murray alcançar o seu objetivo, através de um método expositivo, tratando
especificamente o Evangelho da graça divina na carta de Paulo aos Romanos. Outro
aspecto do seu objetivo é considerar que não existe distanciamento da abordagem
do autor, ou seja, na minha leitura, John Murray abordar as questões exegéticas
do texto sem sair do tema central do próprio texto comentado e analisado pelo o
mesmo. Pode-se perceber que em toda e qualquer argumentação proposta pelo
comentarista, em sua abordagem no texto, sempre traz resultados benéficos à sua
análise e progressivamente ao seu comentário. Considerei outro aspecto forte do
comentário de John Murray a canonização do seu argumento de quê o tema da carta
de Romanos é “… o evangelho da graça divina,” (p. 9). Mais adiante, Murray considera os versículos
16 e 17 do primeiro capítulo como tema central da carta, e apresenta quatro
idéias fundamentais para a apresentação do conceito do evangelho como; “ – o
poder de Deus, a salvação, a revelação e a justiça de Deus”. (p. 58). Murray apresenta sua fundamentação em prol do
proto evangelho ao alicerçar seus argumentos em defesa do conceito do Evangelho
através de textos encontrados no Antigo Testamento (cf. Sl. 98. 1,2; Is. 46.
13; 51. 5,8; 56. 1; 62. 1).
Portanto, considerei esta abordagem e defesa de argumentos, apresentada
pelo autor como o aspecto mais forte do livro. Porque penso assim? Primeiro por
que Murray parte do pressuposto da fundamentação de sua análise através da base
argumentativa do apostolo Paulo, ou seja, o Antigo Testamento. Segundo, por que
corresponde a uma analise não apenas vista e interpretada nesta carta especificamente
e, sim correspondente a uma abordagem que pode ser considerada nos escritos do
apóstolo Paulo. E por último, a base interpretativa de Murray é bem
representada pela hermenêutica reformada. Murray, por exemplo, apresentou o
texto de uma forma que o mesmo mostrou por si só suas afirmações. Interessante
que em toda a parte deste comentário, ou seja, em todos os capítulos do livro
que aborda o comentário do texto da carta aos Romanos, o autor se preocupa
exclusivamente com o texto.
Murray responde a certas críticas de sua época, como por exemplo, a
teologia dialética defendida naquela época por Karl Barth; “Deve ficar
evidente… que o conceito paulino da relação entre a Palavra de Deus reveladora
e as Escrituras difere radicalmente do conceito da teologia dialética.” Em
seguida Murray, de uma forma irônica ou não comenta sobre a falta de
esclarecimento da passagem de Romanos 1. 2. pelo Karl Barth “É significativo
que Karl Barth, em sua obra, The Epistle
to the Romans, deixa de lado essas declarações do apóstolo sem avaliar o
conceito de Sagrada Escrituras implícito em tais declarações” (p. 32,33)
O John Murray apresenta uma biografia respeitável em muitas de suas notas
de rodapé. Posso nesse interim citar, apenas um exemplo, a exaustiva citação do
comentarista Heinrich August Wilhelm Meyer um pastor luterano, que produziu um
comentário completo do Novo Testamento em 16 volumes. John Murray chega a
citá-lo 60 vezes das 657 notas de rodapé do seu comentário. Em alguns momentos
a posição argumentativa de Murray chega a ser totalmente centralizada nas
opiniões de Meyer. Murray chega a si posicionar contra Calvino em detrimento ao
comentário de Meyer, “… O ponto de vista adotado por Calvino e outros… é
bastante insustentável. … Se a interpretação de Meyer e outros fosse adotada,
ela se harmonizaria perfeitamente bem com o pensamento da passagem…” (p. 215,
cf. outro exemplo na nota de rodapé nº 3, p. 284). É impressionante como Murray
fundamenta seus comentários através da posição exegética de Meyer. No entanto,
há desacordo entre Murray e Meyer em algumas citações, por exemplo, na página
345 Murray considera a argumentação etimológica de Meyer sendo “…fútil”.
Na minha leitura, considero este comentário bem elaborado e
importantíssimo para qualquer pregador
que tenha como prioridade a análise do texto bíblico. Para o contexto
brasileiro, o comentário de Murray traz um tom mais tradicional. Há uma
necessidade na teologia brasileira de bons comentários bíblicos. Indico e
apresento este livro como ideal para aqueles que se dedicam e labutam por uma
boa exegese.
Este livro deva ser lido por aqueles que consideram importante sua fundamentação
e opinião no texto bíblico por meio de uma qualificada erudição bíblica. Não
indico a leitores que se dedicam a leituras de comentários devocionais ou que
se prendem a detalhes puramente filosóficos ou a detalhes que não acrescenta em
nada a possível abordagem do texto.
Murray apresenta dez apêndices no final do seu comentário. Entre eles
coloco o apêndice que trata sobre “Karl Barth e Romanos 5” como uma resposta
mais apurada para a teologia dialética. Murray apresenta uma crítica exegética
sobre o pensamento antropológico e soteriológico de Karl Barth.
Podemos ter uma visão panorâmica da carta aos Romanos ao observar que ela
é desenvolvida através da imagem do escritor, neste caso o Apóstolo Paulo, tem
sobre o Evangelho. Diante dos oito (8) primeiros capítulos da carta aos
Romanos, Paulo apresenta a degradação do ser humano em uma linguagem muito
clara, para a época dos seus leitores. Ele apresenta a justiça de Deus e a
glória do Evangelho como a manifestação do punitivo do Senhor da Criação. A
justificação como exigência da santidade divina diante dos pecados humanos,
através de detalhamentos da iniquidade e da miséria do homem caído. Em seguida,
nos capítulos nove (9) a onze (11), Paulo apresenta e desenvolve os assuntos que
têm suas raízes no Antigo Testamento. Estes capítulo delineiam o desígnio universal
de Deus em relação aos judeus e aos gentios. (p. 26). São as promessas feitas a
Abraão e seus descendentes. Nos capítulos doze (12) a dezesseis (16), Paula
escreve sobre a conduta que convém aos santos no exercício de suas
responsabilidades sociais e políticas.
[1]*
Ministro presbiteriano. Pastor da congregação presbiterial em Santa Cruz do
Capibaribe, PE. Formado em Bacharel em Teologia no Seminário Congregacional em
Campina Grande, PB. Mestrando em Hermenêutica no Novo Testamento pelo Instituto
Bíblico Betel Brasileiro em João Pessoa, PB.

Nenhum comentário:
Postar um comentário